domingo, 26 de setembro de 2010

Menino Selvagem



FICHA TÉCNICA:

Título: “L’enfant sauvage”

Realizador: François Truffaut

Produção: Marcel Berbert e Claude Miller

Gravação / Filmagem: Julho / Agosto 1969


DESCRIÇÃO DO CONTEXTO E SITUAÇÕES:

- Filme baseado numa história verídica. Relata a história de uma criança que foi encontrada num bosque por uma camponesa e alguns caçadores. Quando foi encontrada a criança deslocava-se como um quadrúpede, trepava às árvores, alimentava-se de bolotas e raízes, não falava, não se interessava por nada, o seu rosto mostrava indiferença e o seu olhar era vago e vazio.

- A criança foi então entregue aos cuidados de um aldeão, o qual conseguia transmitir à criança alguma tranquilidade.

- Em Paris um médico teve conhecimento deste caso, o qual foi notícia de jornal, e considerou importante observar esta criança, a qual tinha sido privada de educação e que viveu num mundo isolado de indivíduos e da sua espécie.

- A criança foi então levada para Paris. Á sua chegada foi observada por um psiquiatra, Pinel e por um médico, Itard.

- Após uma primeira observação ambos estimaram que a criança teria 11 /12 anos e que teria sido abandonada na floresta por volta dos 3 / 4 anos.

- Realizadas mais observações Pinel considerava que a criança era uma “idiota”, pois tinha comportamentos semelhantes aos “deficientes mentais” com que trabalhava. Pelo contrário, Itard defendia que era possível recuperar o “atraso” da criança, o qual foi provocado pelo seu isolamento total.


IDEIAS PRINCIPAIS:

- O ser humano necessita de estímulos para desenvolver capacidades e competências;

- Relação educação / cultura - o comportamento humano é uma conquista que resulta de um processo de relação entre a educação e o meio cultural em que o sujeito está inserido;

- Quando o isolamento do ser humano é prolongado o seu efeito nunca é totalmente superado;

- Emergência da Didáctica relacionada com a Educação Especial.

PERTINÊNCIA PEDAGÓGICA:

Tal como Rousseau refere “A criança não é um vaso que se enche mas um fogo que se ateia.” Este filme demonstra-nos que realmente somos indivíduos bio, psico, sócio, educativo culturais, ou seja, somos organismos capazes de desenvolver inteligência / raciocínio ao longo da vida. Esta capacidade para nos desenvolvermos é fruto das experiências / vivências, da cultura e da educação que nos é transmitida. Desta forma, o comportamento humano é uma conquista feita em consequência do processo da sua integração no meio cultural. O filme mostra-nos que sem esta transmissão de cultura, socialização, conhecimento e educação o ser humano apenas desenvolve o que lhe é inato, ou seja, o instinto de sobrevivência.

Na minha perspectiva, outro ponto pertinente e forte do filme é a relação afectiva que foi estabelecida, esta foi a base para que todo o desenvolvimento da criança se potenciasse e fez com que ela adquirisse algumas competências ao nível do saber e do saber fazer. Itard começou por despertar a capacidade da criança para discriminar experiências sensoriais, depois prosseguiu com um trabalho meticuloso de treino de respostas emocionais e instrução do comportamento moral, social, da linguagem e pensamento. Itard, após o aperfeiçoamento das suas técnicas e métodos tornou-se num dos pioneiros da Educação Especial.

Este filme também nos mostra que não devemos “rotular” as crianças sem realmente as conhecermos. Devemos observá-las em diferentes situações e contextos tendo o cuidado de registar quais os seus comportamentos, reacções e atitudes. Os registos e avaliações que Itard fazia eram fundamentais, o seu intuito era proporcionar à criança situações de aprendizagem que fossem desafiadoras. No entanto, na minha opinião, considero que algumas dessas situações acarretavam uma excessiva exigência o que, por vezes, culminava no desencorajamento e nos ataques de fúria da criança.



Sem comentários:

Enviar um comentário